Emanuel "Léo" Briglia, o jogador itabunense filho de um coronel do cacau que brilhou no futebol carioca e baiano nos anos 50

  Bom dia a todos os itabunenses de bem, e claro, a todos que tiveram curiosidade em ler este blog. Neste blog falarei um pouco sobre a história de Léo Briglia, e o motivo pelo qual ele poderia ter sido um dos melhores centroavantes do Brasil na década de 1950, mas não vingou.

  Ao todo, darei 5 motivos pelo qual ele não vingou como deveria, apesar de ser um dos maiores ídolos do Bahia e ter tido boas passagens pelo América-RJ, pelo futebol itabunense, pelo Colo-Colo de Ilhéus, pelo Olaria e pelo Fluminense de Waldo, maior artilheiro da história do clube. Começarei primeiro falando um pouco da história dele e de sua família, e de como surgiu no futebol. Espero que gostem!


1) Quem foi Léo Briglia?


  Emmanuel Briglia de Magalhães, também conhecido como Léo Briglia, foi um ex-futebolista brasileiro e ex-auditor fiscal, nascido em 29 de agosto de 1928 em Itabuna e falecido em 25 de fevereiro de 2016 também em sua terra natal. Era filho do coronel do cacau, Francisco Briglia e também era irmão de Rafael Briglia, ex-presidente da OAB de Itabuna e de Eudes Briglia, que era delegado. 

  Devido ao histórico de sua família, Léo sempre teve uma condição de vida excelente, mas desafiou o autoritarismo de seu pai e foi jogar futebol, assim abandonando seus estudos na residência da família. Era afilhado de Juracy Magalhães, ex-governador da Bahia, senador, ministro da justiça, ministro das relações exteriores, primeiro presidente da Petrobrás e também ex-tenente do exército brasileiro. Também era conhecido como um jogador da farra, e alguns diziam até que ele era companheiro de cachaça de Garrincha. Teve 16 filhos vindos de 14 casamentos, então parece que sua fama de boêmio era verdadeira. Por ser filho do coronel, sempre teve muito contato e intimidade com gente da política e do funcionalismo público. Seus últimos anos de vida foram na Ponta da Tulha, em Ilhéus, próximo de Itacaré, e foi internado no Hospital de Base em Itabuna antes de sua morte, causada pelas complicações de uma cirrose hepática grave. Seu corpo foi velado no Velório Santo Antônio.

Léo Briglia, aposentado, com um de seus filhos.


2) O início da história de Léo Briglia no futebol e o primeiro motivo que prejudicou sua carreira


  Léo chamou a atenção do técnico e na época zagueiro uruguaio Grita em uma preliminar entre América-RJ x Bahia enquanto atuava pela FUBE (Federação Universitária Baiana de Desportos). O uruguaio, interessado no itabunense, o convidou para jogar no América, e ele aceitou. Sem a autorização do pai, fugiu para a capital federal da época (Rio de Janeiro), e sua família só foi saber disso nos jornais, quando ele já estava na capital carioca. O time do América treinava no campo do Vasco da Gama, e vendo um de seus treinos, o grande técnico Flávio Costa, médio-direito do Flamengo nos anos 20 e 30 e ex-treinador do Flamengo de Sylvio Pirillo e Zizinho, que na época também estava treinando a seleção brasileira enquanto treinava o Expresso da Vitória vascaíno, teve interesse nele. Léo, porém, já havia assinado o contrato com o América.

  Ainda assim, havia um problema para Léo poder jogar pelo seu time: Seu pai teria que assinar o contrato, e como o jogador e o clube já esperavam a recusa do pai, o Ministro do Trabalho da época foi se encontrar com Francisco Briglia em Salvador para convencê-lo a assinar o contrato. Mesmo tendo uma grande influência política, o coronel rasgou o contrato na frente do ministro e disse: "você é descarado igual a Léo", segundo as palavras do próprio jogador. Ainda assim, o vice-presidente do América, que era juiz de Direito, assinou o contrato se responsabilizando pelo jogador, que ficou no clube de 1947 até 1949 tendo recebido praticamente nenhuma oportunidade, motivo esse que foi o primeiro pelo qual ele não vingou como esperado, sendo que ele poderia ter até ido pro Vasco do técnico Flávio Costa para ser reserva de Ademir de Menezes, e jogar alguns jogos de vez em quando.


3) O América-RJ em Ilhéus e a prisão de Léo


  Em seu último ano pelo América, o clube foi para Ilhéus disputar alguns amistosos, tendo se hospedado no Ilhéus Hotel junto de toda a delegação. Nesse período, foi visitar os parentes em Itabuna, mas pouco tempo antes de retornar para o Rio de Janeiro com a delegação, foi preso pelo seu irmão, Eudes Briglia, enquanto ouvia seu pai dizendo "você não vai retornar mais, seu moleque vagabundo!", e assim, foi obrigado a permanecer em Itabuna, que foi o segundo motivo pelo qual sua carreira foi prejudicada, sendo este motivo o mais grave de todos.

  Mesmo sendo obrigado a permanecer na cidade trabalhando na fazenda de seu pai, ainda continuou jogando por alguns times amadores da cidade de Itabuna e região, tendo enfrentando o Bahia, Botafogo de Senhor do Bonfim e Ypiranga. Segundo Léo, "nós papavamos todos eles". Ficou até 1953 em Itabuna, indo para o Colo-Colo de Ilhéus. Foi bicampeão ilheense pelo clube em 1953 e 1954, sendo o artilheiro isolado do campeonato amador. Foi nessa época que conseguiu um emprego de auditor fiscal, tendo também tentado jogar pelo Vitória e pelo Bahia, mas sendo recusado por ambos pela sua fama de boêmio.


Elenco do Colo-Colo de Ilhéus em 1953.


4) Seu retorno ao Rio de Janeiro e o início de seu auge


  Em 1955, Léo finalmente conseguiu voltar a jogar no Rio, dessa vez atuando pelo Olaria. Apesar do clube ter ficado somente em nono no Campeonato Carioca daquele ano, ficou em sexto na artilharia com 16 gols marcados em 22 jogos, ficando empatado na artilharia com Leônidas do América, com 1 gol a menos que Pinga do Botafogo e Hilton do Bangu, 2 gols a menos que Waldo do Fluminense e 7 gols a menos que Paulinho, campeão carioca com o Flamengo e artilheiro com 23 gols. Foi contratado pelo Fluminense em 1956, mas demorou um pouco para engrenar no clube devido a algumas lesões, sendo reserva de Waldo. Também disputou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais de 1956, sendo reserva.

Léo Briglia com a camisa do Olaria em 1955.


  No ano seguinte, porém, seria o segundo ano mais glorioso de sua carreira, onde passaria a chamar a atenção não só dos amantes do futebol carioca, mas também do futebol brasileiro: Foi campeão do Torneio Rio-São Paulo com o Fluminense muito devido ao protagonismo de Waldo, artilheiro da competição com 13 gols, mas ainda marcou no jogo do título vencido por 3 a 1 sobre a Portuguesa de Djalma Santos, vendo Waldo marcar os outros 2 gols do clube tricolor e tendo jogado 5 jogos ao todo e marcado 3 gols. Depois, apesar do vice campeonato carioca para o Botafogo por um humilhante 6 a 2 na final onde não jogou (possivelmente por lesão ou por ter sido reserva de Waldo), ficou em terceiro na artilharia com 19 gols em 20 jogos, 1 a menos que Dida do Flamengo e 3 a menos que Paulinho Valentim, campeão com o Botafogo e artilheiro com 22 gols.

  Ficou de 1956 até o início de 1959 no clube tricolor, marcando 57 gols em 105 jogos. Durante seu período no clube, ele fugiu para uma boate enquanto deveria estar na concentração para um jogo contra o Vasco no dia seguinte, que valeria pela primeira rodada do Campeonato Carioca de 1957 e que seria o aniversário de 55 anos do clube. Ainda na madrugada, seu técnico, Zezé Moreira, o levou de volta ao hotel e disse "enquanto eu estiver aqui, você não veste mais a camisa do Fluminense, mas não vou dizer a ninguém o porquê te removi do time". Léo, porém, jogou o clássico contra o Vasco devido a lesão de um de seus companheiros de equipe. Resultado? Goleada do Fluminense por 5 a 2 com 2 gols de Léo. Esse jogo foi realizado em 21 de julho daquele ano, no aniversário de 55 anos do clube. O fato de Léo ser um jogador irresponsável e extremamente baladeiro também prejudicou sua carreira, e eu considero como um quarto motivo.

Léo Briglia junto de jogadores do Fluminense em 1957 (Waldo e Telê Santana estão na foto).


5) Léo Briglia, Pelé e a Copa do Mundo de 1958


  Segundo ele, Pelé só foi convocado para a Copa do Mundo de 1958 devido a uma lesão em seu joelho, e por ter que aplicar uma dentadura devido as suas cáries, que o obrigou a ter que remover todos os seus dentes. O técnico Vicente Feola o havia convocado, mas depois teve que por Dida, do Flamengo, em seu lugar. Só pelo Dida ter o substituído em seu lugar ao invés do Pelé, dá pra ver que a história do Léo é bem duvidosa, até pelo fato do Pelé ter sido vice campeão paulista em 1957 sendo o artilheiro isolado da competição com 36 gols, e também foi bem no Torneio Rio-São Paulo daquele ano. Léo também tinha um certo problema com as lesões, mais um motivo pelo qual sua carreira foi prejudicada.


6) Léo Briglia e o Bahia em 1959: O melhor momento da carreira de Léo


  Tentou novamente ser aceito pelo Vitória, mas foi rejeitado mais uma vez, com o dirigente Ney Ferreira dizendo que Léo estava velho e em fim de carreira. Foi para o Bahia no início do ano de 1959 com a ajuda de Geninho após ir embora do Fluminense devido a mais e mais lesões, sem falar da má fase do clube. Mesmo com Geninho ouvindo o presidente Osório Villas-Boas dizendo que Léo bebia muito e era irresponsável, o técnico o convenceu ao lhe prometer a Taça Brasil. Assim, Léo foi contratado. Além de ter sido campeão baiano, foi um dos heróis da conquista da Taça Brasil de 1959 em cima do poderoso Santos de Pelé, marcando um golaço no jogo da finalíssima vencida por 3 a 1 no Maracanã, terminando como o artilheiro da competição com 8 gols. Também jogou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais de 1959 e a Copa Libertadores de 1960, onde já não era mais o mesmo. Saiu do Bahia no início de 1961, tendo outras passagens inexpressivas pelo Vitória-BA (1961-1963), Leônico (1963), Galícia (1964) e São Cristóvão-BA (1965). Se aposentaria em breve para focar no seu trabalho de auditor fiscal, tendo marcado 77 gols em todo o seu tempo pelo clube da capital baiana. Naquela Taça Brasil de 1959 ele também foi importantíssimo nos jogos decisivos contra CSA, Ceará, Sport Recife nas quartas de final e o poderoso Vasco da Gama na semifinal, onde inclusive marcou o gol da classificação lá do meio da rua.

Léo com o troféu da Taça Brasil de 1959.

Léo recebendo a faixa de campeão da Taça Brasil de 1959.


7) A fama do Bahia e o curioso amistoso na União Soviética em 1960


  Vencer o Santos de Pelé, melhor jogador do mundo, fez o Bahia ganhar fama ao redor do futebol internacional. Devido a isso, o time foi convidado a participar de uma pequena excursão na Europa, mais especificamente na URSS. Em 18 de agosto de 1960, o time enfrentaria o CSKA Moscow no Estádio Central de Lênin com 50.000 mil espectadores, e venceria o time comunista por 2 a 1 com gols de Alfredinho e de Léo, que marcara o gol da vitória.


8) Juntando os motivos


  Vamos resumir os motivos pelo qual a carreira dele não foi como deveria ser: Seu pai era uma pessoa extremamente autoritária, e nem ele e nem sua família o apoiavam devido ao fato do futebol ser considerado coisa de malandro antigamente. Além disso, teve praticamente nenhuma oportunidade pelo América, seu primeiro clube, mesmo tendo ficado 3 anos no Rio, e poderia ter ido para o Vasco, que tinha o melhor elenco de sua história. Além disso, foi preso no centro-sul da Bahia pelo seu irmão com o apoio de seu próprio pai após uns jogos amistosos do América em Ilhéus naquele ano de 1949, tendo que ficar 4 anos no futebol amador de Itabuna e de Ilhéus, retornando ao futebol profissional carioca somente em 1955, aos 26 anos. Ou seja: Tecnicamente, ele só viraria jogador profissional de verdade aos 26... Além disso, tinha certos problemas com lesões além das mulheres, bebidas e festas, e também nunca teve uma oportunidade de provar o seu valor pela seleção brasileira, nem em 1957 e nem em 1959, onde foi sensacional...


  Ficou muito bom. Eu também poderia fazer um blog falando sobre o Perivaldo, que também é daqui de Itabuna e é ídolo do Botafogo. Quem sabe, né? 

  Pensando bem, acho que eu farei isso em breve.

  Tchau!

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